O ENGENHO DE SANTANA
O início do nosso Engenho
de Santana data de junho de 1547, com a doação de duas sesmarias e dois
contratos de aforamento das águas, aos fidalgos portugueses Mem de Sá e
Francisco Betamcort; a doação partiu do Capitão Donatário Jorge de Figueiredo
Correa. Os documentos garantiam a posse e a obrigação de construir dois
engenhos, além do pagamento de foro anual. Betamcort fica com a sesmaria e
águas acima do Rio de contas; já Mem de Sá demarca sua sesmaria na beira do Rio
Santana, local da construção do engenho. ( MARCIS, p. 281, 2013)
Com a morte de Mem de Sá
em 1572, constava em seu inventário um grande patrimônio, aqui no Brasil ele
possuía dois engenhos de grande porte, O engenho Sergipe, localizado no
recôncavo e o de Santana em ilhéus. Sobre o engenho de Santana:
“
Uma casa de engenho com todos os seus apetrechos, quatro barcos, quatro carros,
artilharia, armas leves e munições, um baluarte, 41 tarefas de canaviais e uma
igreja. A mão de obra escrava era composta por 132 escravos – sendo sete negros
de Guiné (seis homens e uma mulher), e 125 índios, chamados “ negros da terra”.
Todos os escravos foram arrolados entre os demais bens deixados para os
herdeiros. Tudo somado foi avaliado em 3.130 cruzados. O valor era bastante
alto” (MARCIS, p.282, 2013)
De acordo com o
testamento, Mem de Sá deixava seus bens para os seus dois filhos; Francisco de
Sá e Felipa de Sá. Francisco vem a falecer oito meses depois da morte do pai,
deixando para a irmã incumbência de administrar o engenho. Felipa conduz o
engenho por 46 anos, junto com seu marido o conde de Linhares, Fernando de
Noronha. Com a sua morte e a de seu marido, e como o casal não teve filhos, os
bens do casal no Brasil e em Portugal foram doados para o Colégio Jesuíta de
Santo Antão de Lisboa. Neste período o engenho foi administrado pelos jesuítas,
até sua expulsão pelo Marquês de Pombal, em setembro de 1759. Os bens
confiscados pela coroa, são descritos da seguinte forma.
“Casa
de residência [...] com paredes de pedra e tijolo, quatro dormitórios e varanda
[...].
Uma
capela pequena de pedra e cal com seu alpendre e torre de cima. Com as paredes
indo em bom uso, com as madeiras de telhado e coro também em bom uso [...], o
retábulo do altar que está muito velho, e antigo.
Uma
casa de engenho com forno do lado de fora;
Uma
casa de caldeiras e casa de purgar pegada e uma outra de pedra e cal;
Uma
casa de peso e ferreiro tudo de pedra e cal ainda com bom uso;
Uma
casa de olaria formada [...] cheios de madeira, coberta de telha com dez braças
e três palmos de comprido e com duas braças e oito palmos de largo.
Um
forno de coser louça, telha e tijolo [...]” (ARQUIVO ULTRAMARINO, CAIXA 14,
MAÇO 4927, DOC. 4947-4948 apud MARCIS, 2013, p.285)
É interessante observar
como o engenho é descrito; um sistema de produção complexo e grandioso na
produção de açúcar. Segundo a documentação, ele se caracterizava como um
engenho real, ou seja, movido a energia hidráulica e de grandes dimensões.
O maior número de
trabalhadores no engenho era destinado à produção de cana de açúcar e a jornada
de trabalho ocupava praticamente todo o ano. Demorava cerca de dois meses para
plantação e nove meses a colheita. Para não parar a produção do engenho, era
feito o sistema de rodizio; enquanto um canavial estava sendo plantado, outro
já estava na fase da colheita. Esse método era importante, pois demorava cerca
de 12 a 14 meses para o ponto de corte da cana.
No engenho de Santana as
plantações eram feitas em áreas nem sempre apropriadas para o plantio, isso
tornava o trabalho ainda mais árduo para os escravos. Além disso, picadas de
cobras, insetos e o difícil acesso a regiões de canavial, como por exemplo no “Jabiru”,
região de manguezais, onde os escravos deveriam atravessar para chegar em uma
das áreas cultiváveis do engenho.
Dentre as estruturas do
engenho, estava a casa de moer ou casa de engenho, onde se localizava a a
moenda; segundo Antonil, o lugar mais perigoso do engenho.
“se
por desgraça a escrava que mete a cana entre os eixos, ou por força do sono, ou
por cansada, ou por qualquer outro descuido, meteu desatentadamente a mão mais
adiante do que devia, arrisca-se a passar moída entre os eixos, se não lhe
cortarem logo a mão ou o braço apanhado, tendo para isso junto da moenda um
facão, ou não forem tão ligeiros para fazer parar a moenda, divertindo com o
pejador a água que fere os cubos da roda, de sorte que dêem depressa a quem
padece, de algum modo, o remédio. E este perigo é ainda maior no tempo da
noite, em que se mói igualmente como de dia, posto que se revezem as que metem
a cana por suas equiparações, particularmente se as que andam nesta ocupação
forem boçais ou costumadas a se emborracharem.
(ANTONIL, p.47)
Caso parecido acontece no
engenho de Santana, Segundo Schwartz (2001), uma escrava de nome Marcelina,
perdeu um dos braços na moenda. Mesmo perdendo um dos membros, a escrava
continuou sendo escalada para o trabalho, agora na função de jogar água nas
engrenagens da moenda para diminuir o atrito dos tambores de madeira que
esmagavam a cana.
Os relatórios dos padres
administradores, nos fornecem valiosas informações sobre a administração
jesuítica no engenho. Em 1753, o padre Pedro Teixeira informa que o número de
escravos era de 182, e que muitos viviam doentes e inaptos para o trabalho no
canavial, ele informa também que, no período de 1731 até 1752, nasceram 24
crianças e morreram 23 escravos. Além desses dados, ele nos fornece os preços
de alguns escravos comprados no período.
“Pretos
comprei [...]
Joana
de Rosi no Bco por – 80$00
Jacintha
Ramos em praça no Rio das Contas por – 100$00
Felipe
Ribeyro [...] de Coelho por – 100$000
José
Monteyro ao Cel. Moteyro por 105$000
Dos
que recebi no Eng. Vendi um chamado Apollinário de Figueiredo à procuração de
Domingos Alfonso Cortes [...] por 160$000” (ARQUIVO ULTRAMARINO, CAIXA 14, MAÇO
4927, DOC. 4947-4948 apud MARCIS, 2013, p.289)
Os escravos foram
fundamentais na região sul da Bahia, desde a lavouras de cana de açúcar até a
implantação da cacauicultura no XIX. No Engenho de Santana, além da produção de
cana de açúcar os escravos eram relacionados como, pedreiros, carpinteiros,
calafeiteiros e caldeiros; porém, o maior contingente era destinado aos
canaviais e produção de açúcar.
Com a saída dos jesuítas,
os bens foram confiscados pela coroa Portuguesa e levados a leilão. “ o engenho foi então arrematado por Manuel
da Silva Ferreira que, em 1810, o repassou ao Brigadeiro Felisberto Caldeira
Brant, o Marquês de Barbacena. Em 1834, o Marquês negociou as terras do engenho
com Sá Bittencourt e Câmara que manteve a passe até sua morte, em 1896”
(MARCIS, p.284). Após esse período a sesmaria onde localizava o engenho foi
dividida entre seus herdeiros.